Neste dia 20 de maio é comemorada a chegada de Vasco da Gama à Índia, que ocorreu em 20 de maio de 1498, marcando a ligação por via marítima entre a Europa e o Oriente.
A cidade do Porto tendo, ao longo da sua História, uma grande herança mercantil, foi palco de grande atividade de Companhias de Mercadores que durante o século XVIII negociavam com o Brasil, África, Índia, Europa do Norte, entre outras partes do mundo.
As cargas eram variadas, tais como, açúcar, tabaco, algodão, madeira e pau-brasil, escravos, especiarias, marfim, tecidos, porcelanas, pedras preciosas e ouro.
No início do século XVIII, os conhecimentos de fretes de navios em Portugal eram documentos formais que estabeleciam as condições para o transporte marítimo de mercadorias. Detalhavam aspetos como o tipo de fretamento (por viagem, a tempo ou em casco nu), as responsabilidades das partes envolvidas “Por conta e risco”, as mercadorias transportadas, os portos de embarque e desembarque. Contendo ainda o nome e tipo do navio, marca do proprietário, descrição breve da mercadoria e o preço do frete.
O Arquivo da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco do Porto custodia importantes legados destes mercadores com informação única destas transações comerciais, cujo exemplo do legado do mercador António Lobo Guimarães (1678-06-27-1743-09-21) destacamos.
Acompanhemos então o frete do navio Rainha dos Anjos para o Rio de Janeiro no ano de 1722.
Conhecimento de fazenda do Porto pelo navio Rainha dos Anjos
8 de junho de 1722
Com privilégio de Sua Majestade, para que só destes conhecimentos se use;
Digo eu, António Gomes vizinho do Porto, capitão e mestre que sou do navio que Deus salve, por nome Rainha dos Anjos, que ao presente está surto e ancorado no porto da cidade do Porto, para com o favor de Deus seguir viagem ao porto do Rio de Janeiro, onde é minha direita descarga, que é verdade que recebi e tenho carregado dentro no dito navio, debaixo da coberta, enxuto e bem acondicionada, de Domingos Martins Sampaio, dois pacotes em que diz vão novecentas e oitenta varas de pano de linho que declarou fazer por conta e risco de António Lobo Guimarães e assim mais um embrulho, com cinquenta e sete varas, que faz por conta e risco de João Cardoso, para seu irmão Domingos Cardoso Amorim.
Marcados da marca de fora, o qual me obrigo, e prometo, levando-me Deus a bom salvamento o dito navio ao dito porto, de entregar em nome do sobredito António Lobo Guimarães, ausente, ou a quem seu poder tiver e não havendo, a Manuel Gonçalves Barros, em Pernambuco, a João Martins da Cruz na Baía, assim a Simão Lobo Guimarães nas mais partes a mim capitão mestre.
Pagando-me de frete doze mil réis, para assim cumprir e guardar, obrigo minha pessoa e bens e ao dito navio em certeza do qual dei quatro conhecimentos de um teor, assinados por mim ou por meu escrivão, um cumprido, os outros não valham. Feito em 8 de junho de 1722.

Figura 1 – Marca do mercador António Lobo Guimarães